Autor Rio Quente
Equipe Rio Quente
O calendário cultural das cidades de Goiás está sempre agitado por celebrações populares lindas e cheias de significado. É difícil não se encantar pela cantoria alegre da Folia de Reis e pelas fantasias dignas de contos de fadas que aparecem nas Cavalhadas, por exemplo. Hoje, vamos falar de uma celebração especial, presente na tradição goiana há muito, mas muito tempo: a Procissão do Fogaréu.
Para algumas pessoas, esse costume secular pode parecer um pouco… assustador. De fato, as figuras encapuzadas que caminham pelas ruas levando tochas acesas durante a Procissão do Fogaréu podem provocar arrepios em quem não conhece. Mas não precisa se assustar! A atmosfera mística desse evento fascinante carrega uma história riquíssima e sempre rende experiências inesquecíveis para quem curte turismo cultural.
Se você adora descobrir tradições de vários lugares do Brasil, vai amar nosso papo de hoje! Vem com a gente desvendar os significados da Procissão do Fogaréu de Goiás, descobrir como ela surgiu e conhecer algumas curiosidades interessantes sobre esse tema.
Procissão do Fogaréu: história da celebração
Quando a gente diz que a Procissão do Fogaréu tem história à beça, não estamos exagerando!
Os costumes que inspiraram a celebração, na verdade, datam de uma época em que os colonizadores europeus ainda nem sonhavam em pisar no Brasil. Na Idade Média, já existiam em Portugal e na Espanha alguns eventos parecidos com a Procissão do Fogaréu. Eram passeatas religiosas em que os participantes andavam pelas vias públicas vestindo trajes misteriosos e iluminando as casas com o fogo de tochas ou piras.
Esses momentos solenes tinham uma simbologia importante para a fé católica. Eles representavam cenas famosas da trajetória de Jesus Cristo, narradas na Bíblia Sagrada. Segundo a cosmologia cristã, depois da Última Ceia, os soldados romanos que desejavam capturar Jesus saíram pelas ruas de Jerusalém buscando por ele. Disposto a se sacrificar pela humanidade, Cristo foi encontrado e preso por seus perseguidores.
A tradição de relembrar a busca que levou à prisão de Jesus chegou no Brasil em 1745, trazida pelo padre espanhol Perestelo de Vasconcelos. Ele foi o responsável pela criação da Procissão do Fogaréu que conhecemos hoje, na cidade de Goiás, antiga capital do estado de mesmo nome.
Hoje, com quase 300 anos de existência, a celebração já é considerada um verdadeiro ícone cultural do município e atrai muitos visitantes de todas as partes do mundo. Tem até um projeto de lei aprovado em 2023 que deve conceder à Procissão do Fogaréu o título oficial de Patrimônio Cultural e Imaterial Goiano.
Saiba como acontecem os ritos da Procissão do Fogaréu em Goiás
Mas, afinal… o que acontece, exatamente, na Procissão do Fogaréu?
Bem, a resposta para essa pergunta pode variar um pouco dependendo do lugar: na verdade, a celebração acontece em várias partes do Brasil, sempre durante a Semana Santa. Mas a cidade de Goiás, pioneira na realização dos ritos, é considerada o berço e o lar da Procissão do Fogaréu. Lá, a vida cotidiana é pausada quando a quinta-feira da Semana Santa se aproxima.
A Procissão do Fogaréu em Goiás começa pontualmente à meia-noite da Quinta-feira Santa, depois de um longo período dedicado aos preparativos. Nesse horário, diante das luzes apagadas da Igreja da Boa Morte, um grupo de mais ou menos 45 homens – os farricocos – se reúne ao som de tambores. Vestidos com as roupas ritualísticas e carregando tochas em chamas, eles andam descalços até a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
O percurso é acompanhado de perto por uma multidão de turistas, devotos do catolicismo, fãs de história e moradores da cidade de Goiás. Sem perder a seriedade e a beleza misteriosa, a Procissão do Fogaréu avança com ares teatrais, já que os participantes mascarados encenam vários momentos da perseguição a Jesus Cristo. Conforme manda o roteiro, ao chegar na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, eles se deparam com a mesa da Última Ceia, já abandonada pelo profeta e por seus discípulos.
Os farricocos seguem então para a Igreja de São Francisco de Paula. Na simbologia da Procissão do Fogaréu, esse templo representa o Jardim das Oliveiras, lugar onde Cristo teria sido encontrado e preso. Na cena da captura, ninguém se caracteriza para fazer o papel de Jesus: ele é representado por um estandarte de linho pintado que carrega sua imagem.
No total, a Procissão do Fogaréu percorre um caminho de dois quilômetros no escuro iluminado somente pelo fogo das tochas – já que todas as luzes da cidade são apagadas durante a cerimônia –. O ponto alto da noite é o momento da prisão de Jesus, em que o estandarte é levado pelo grupo ao som do clarim, toque que interrompe o silêncio dos ritos. Incrível, né? Do início ao fim, a Procissão do Fogaréu é hipnotizante!
Quem são os Farricocos?
Tem uma dúvida que muitas vezes persiste até em quem já conhece a Procissão do Fogaréu: afinal, quem são os farricocos? Por que eles se vestem de maneira tão característica?
Embora as interpretações possam variar um pouco entre os estudiosos e apreciadores da celebração, existe o consenso de que os farricocos representam os perseguidores de Jesus Cristo. Para algumas pessoas, os personagens simbolizam a população que contribuiu para a condenação do profeta. Para outras, os farricocos são os próprios militares do exército romano que foram encarregados da prisão.
De qualquer forma, a caracterização excêntrica dos farricocos não surgiu do nada: as longas túnicas de cetim e o capuz pontiagudo, em forma de cone, se parecem muito com certos trajes documentados na Idade Média. Na época, essas roupas e acessórios eram usados por penitentes – pessoas determinadas a pagar pelos próprios pecados – que desejavam cumprir com as obrigações religiosas da penitência sem revelar suas identidades.
Em algumas partes do Brasil, o cortejo dos farricocos é acompanhado por outros personagens, como os mestres da lei, os soldados com trajes militares e alguns dos aliados de Jesus. Mas não dá para negar que essas intrigantes figuras encapuzadas são sempre protagonistas na Procissão do Fogaréu!
Confira as curiosidades desta procissão
Até aqui, você com certeza já entendeu por que tanta gente é fascinada pela Procissão do Fogaréu. Para te fazer mergulhar ainda mais na atmosfera peculiar desse evento que é um verdadeiro patrimônio cultural, separamos uma pequena lista de fatos interessantes sobre ele.
Confira, abaixo, nossas curiosidades preferidas sobre a Procissão do Fogaréu!
- Passos calculados: os farricocos que compõem a Procissão do Fogaréu não caminham na mesma velocidade durante todo o caminho. Mas o ritmo dos passos não é aleatório, e sim minuciosamente coordenado pelos toques dos instrumentos que acompanham o cortejo.
- Anonimato: hoje em dia, muitos farricocos falam abertamente sobre sua participação na Procissão do Fogaréu. Entretanto, a tradição medieval do anonimato permaneceu durante bastante tempo, então a identidade dos farricocos era mantida em segredo. Até os dias atuais, eles têm o cuidado de nunca remover os capuzes em público.
- Organização oficial: apesar de ter sido criada em 1745, a Procissão do Fogaréu só passou a acontecer com mais regularidade no século passado. O evento passou por longos intervalos em sua realização até 1965, quando passou a ser responsabilidade da Organização Vilaboense de Artes e Tradições (OVAT).
- Novo significado: tradicionalmente, os farricocos se vestem em trajes coloridos de tons como azul, amarelo, vermelho, roxo e branco. Mas em 2022, pela primeira vez na história, um farricoco vestido inteiramente de preto caminhou na Procissão do Fogaréu de Goiás. A novidade foi uma homenagem às muitas vítimas da pandemia de COVID-19.
- Seleção dos participantes: no fim das contas, quem pode ser um farricoco? A resposta é: qualquer um! Bem… mais ou menos. De fato, não é necessário fazer parte de grupos ou organizações específicas para se caracterizar na Procissão do Fogaréu. Mas existem requisitos. Além de serem do sexo masculino, os voluntários precisam ter em média 1,70m de altura. Para se candidatar, você pode mandar um e-mail para a OVAT manifestando seu interesse. É só enviar uma mensagem para o endereço ovat@outlook.com.br.
A Procissão do Fogaréu é uma tradição única! Que tal viver essa experiência e depois passar uns dias inesquecíveis em Rio Quente?
E aí, já está com vontade de conhecer a Procissão do Fogaréu de perto?
Então pode se preparar para uma viagem transformadora, porque esse é apenas um dos vários elementos espetaculares do folclore goiano. Depois do nosso conteúdo, você com certeza poderá apreciar a rica bagagem da Procissão do Fogaréu por um novo ângulo. E ela merece, afinal, estamos falando de uma celebração que é símbolo de fé, parte da identidade cultural de Goiás e responsável por manter viva uma longa história.
Na hora de desbravar a cultura goiana, aproveite a viagem para descobrir também as outras maravilhas que o estado tem a oferecer. Que tal se hospedar em meio à natureza preservada do Cerrado e se banhar em águas termais com propriedades regeneradoras? No Rio Quente, você vive uma estadia diferente e cria memórias inesquecíveis com sua família.
Vem se apaixonar por Goiás e pela Procissão do Fogaréu no Rio Quente!